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ANTES DO PÓ

BEFORE THE DUST

EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL | SOLO EXHIBITION. TEXTO | TEXT: FRANCISCO ROCHA.

GALERIA VIRGÍLIO, SÃO PAULO, BRASIL.

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Foto: Paulo D'Alessandro

"Fiel à verdade do objeto, Adriana não interfere na marcha de sua finitude. Os vincos dos vidros, foi o tempo que abriu, foi o tempo que desfez o ovo em cascas e espalhou a nódoa da sujeira e o trauma do desgaste na superfície de tecidos e outros materiais recolhidos. O trabalho destrutivo do tempo consiste em apagar a finalidade ao qual o objeto se conformava, logo, em retirar-lhe a forma que o vivificava enquanto coisa útil.  O trabalho criador da artista, por sua vez, consiste em decidir quando esses objetos, despidos da conformidade aos fins da serventia, se prestam a manifestar uma forma nova, que emerge das profundezas do estado de degradação.

  (...) Antes do pó ressignifica o silêncio da morte. Esse silêncio nasce do medo do não-ser, o qual o ser humano evita encarar distraindo-se na cotidianidade ruidosa dos objetos funcionais. Ao dar novo sentido a esse silêncio, a obra desvela, pelo espanto, a verdade temerosamente ocultada de que o tempo labora, inexorável, a finitude das coisas. O que se fustiga, assim, é o imperativo de permanência renovada, patente mais do que nunca no mundo virtual das tecnologias contemporâneas, onde os objetos são, falsamente, jovens para sempre. Mas o empreendimento não é somente negativo, já que a obra não se esgota na exibição da deformação mórbida. Graças à alquimia criativa, a artista logra mostrar que a matéria envilecida ecoa o quebranto da morte e sussurra o segredo da beleza."

Francisco Rocha

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